terça-feira, 23 de abril de 2019

Beijos escolhas e bolhas de sabão


Ela passava as mãos sobre meus cabelos. A intensidade das coisas era forte demais, e eu nunca relutei contra. Aliás, a única coisa que lutamos contra era ter a noite de amor dentro de um carro, na porta de sua casa, onde sua mãe poderia aparecer a qualquer minuto.

Tinha horas que inventávamos algum papo para o clima não ficar tenso, afinal a vontade era maior do que tudo em nossos corpos. Lembro-me de botar a mão por dentro de sua saia. Ela, ofegante, relutou sem querer tirar minha mão lá de dentro. Ela, ofegante e cheia de vontades. Eu...bem, eu fazia o papel.

Seus cabelos, ondulados que mais parecia de molas misturava-se ao molhado de nosso suor e nossos beijos. Era engraçado, mas ela sempre temia em ficar com os cabelos desarrumados, e agora perdia totalmente as estribeiras. Os óculos batiam. Eu pedia para que ela continuasse a usar e eu tiraria o meu. Fetiches e admirações da vida. 

Lembro-me de umas palavras que trocamos. ´´ Tem algo de ruim em você mesmo ´´, perguntávamos, lógico, sem conhecer profundamente nossas vidas. Mas por um mero acaso, acabamos naquele carro, com aqueles beijos e naquela situação.

Fomos apresentados por uma grande amiga em comum. Simone trabalhava em uma loja de brinquedos quando fui comprar algo. Pedi algum brinquedo para meninas, e ela veio com inúmeras opções para a criança brincar de dona de casa. Quando ela viu minha expressão, puxou papo. Viu que eu era apenas mais um de passagem pelo lugar e me convidou para tomar, junto com alguns amigos, um Pisco. Aceitei. Cheguei ao tal bar na hora marcada, apenas Simone estava presente. Começamos a conversar e os amigos iam chegando. Chegaram dois, quatro, seis, quando fui perceber, a mesa estava com mais gente que a santa ceia.

No início, apenas papos descontraídos. Chegaram um violão e uma flauta. As músicas começaram a rolar, juntamente com as garrafas de pisco. Não consegui contar quantas havíamos bebidos até aquele momento...aquele momento.
-Qual seu nome?
- Viccenzo e o seu?
- Jezabel, mas todos me chama de Jessie.
- Prazer, Jaezabel, nome bíblico, certo?
- Sim, meus pais, religiosos só colocaram nomes bíblicos nos filhos. Meu irmão chama-se Pedro. Quero que seja o nome do meu filho também. O que veio fazer por aqui?
-Te conhecer, eu disse brincando. Ela riu. Começamos a bater um bom papo. Ela, médica formada. Eu? Um mero viajante. Nunca imaginei que uma médica como ela fosse se interessar por mim. Falamos de estrelas, de como era sua vida naquela cidade, de como as coisas aconteciam. Até que, em uma brincadeira boba...
- Nossa, que legal, perfeita, mas é médica. Mesmo assim, quer casar comigo?
Ela riu. Não respondeu nada
- É , uma médica nunca iria se interessar por um nada assim
- Eu não falei que não. Só quero saber, pra você, o que teria demais um filho se chamar Pedro?
-An?, acho que nada, nem sei se pretendo ter filhos na verdade, mas se tivesse, Pedro seria um nome bom sim.

Ela riu. Respirou fundo e pediu licença para ir ao banheiro. Levantou-se rapidamente e saiu, às minhas costas. Eu em um impulso que veio não sei de onde, fui atrás. Ela usava o banheiro enquanto eu a esperava no lado de fora. Ela abriu a porta. Uma senhora pediu licença para utilizar e passou entre nós. Quando ela fechou a porta, nos beijamos. Sim, na porta de um banheiro de um bar sujo fechamos o mundo. Tudo poderia cair naquele momento, que estaria bem. As bocas se encontrando, o movimento do corpo, as mãos em uma dança imaginária que parecia ensaiada... aquele beijo mostrou que não foi a primeira vez que estávamos juntos. Mas tudo indicava que seria a última.

Voltamos à mesa. Em meus pensamentos, pensava que seria algo só ali no banheiro, afinal não conhecia ninguém ali da mesa e já fui logo agarrando uma das mais belas. Ela pediu para chegar mais perto. Beijamo-nos ali, na frente de todos, sem o mínimo de problema. Ela pegou o meu braço e entrelaçou em seu corpo, dando a mostra que sim, ali havia um casal sentado. Ela parecia não querer desgrudar de mim. Falei que iria embora em três dias, que estava só de passagem.
- Então hoje vou te levar pra conhecer alguns lugares daqui. E você é meu convidado, não precisa se preocupar com entrada e bebidas.
- Não, isso não vou permitir, eu pago minha entrada e tudo o que eu beber.
- Ok, mas hoje você terá uma noite boa.
O papo ainda foi rolando naquele bar. Ela ,em um tom confessional, falava baixo pra mim.
- Nossa, difícil eu me interessar por alguém, mas você realmente me chamou a atenção.
- Devem ser meus olhos azuis (eu não tenho olhos azuis).
- Para com isso bobo, sério. Te contar. Eu já fui casada, e conheci meu ex-marido assim, no bar e era amigo de uma amiga. Engraçado como são as coisas, eu me encantei por ele assim como estou encantada por você. Estranho, mas parece que tem coisa se repetindo.
- São as peças que a vida sempre nos prega né. Mas acho que é uma mera coincidência, afinal nós só temos hoje para aproveitar...
- Então teremos uma noite inesquecível.


Ela me levou a um bar pelo centro da cidade. A arquitetura do centro era rústica, um tanto quanto pitoresca também. Achei belo, mas ela por ser moradora de lá, acha feio, prefere as coisas modernas. Como ela mesma falou ´´ gosto de um bom shopping com ar condicionado ´´.
O bar era fechado, sem muita ventilação e com muita gente. Pra mim, era algo que nunca imaginaria ficar, mas não sei porque aquela companhia estava de muito bom grado. Bebemos cerveja, e claro Pisco. Pisco é a bebida combustível daquele lugar.
- Você tem de ir embora mesmo? Fica por aqui. Te ajudo a conseguir um trabalho, uma casa. Você pode ficar em casa um tempo...
- Calma ai, Jessie, vamos com calma. Primeiro, minhas ações são impulsivas, não fique falando pra eu ficar que eu acabo ficando. Segundo, não, não ficaria em sua casa, apesar de querer muito ficar contigo, mas nos conhecemos faz pouco tempo, não seria uma boa ideia isso.
-Eu sei, tô fazendo drama, mas você bem que poderia...
E isso ficou na minha cabeça. Bebemos, nos beijamos, nos amamos, nos apaixonamos e chegou a hora de ir embora. Ela pegou um cigarro, que até então não havia fumado.
-Eu sabia que tinha algum defeito, você fuma.
-Só às vezes, mas se você se incomoda eu não fumo agora não.
-Sem problemas, só não acho bonito, apenas isso.
- Se incomoda ou não?
-Fuma logo.

Ela acendeu o cigarro. Mas por incrível que pareça, achei-a fumando com um charme muito grande. A fumaça ficava em volta de seus cabelos, que até então estavam apenas presos por um elástico. Ela tragava, olhando para o filtro, e soltava para cima, fazendo um bico que me fez lembrar inocência. Estranho, mas uma mulher fumando me lembrou...inocência.
Fomos embora.
- Não quero acabar a noite assim, pra onde você quer ir?
- Você quem mora aqui, não conheço nada.
-Poxa, mas não me vem nada a cabeça agora.
- Certo, tem algum lugar que de pra ver a cidade do alto?
- Tem, mas não sei se já começaram a construir algo por lá, vamos passar e vir.
Andamos por cerca de 20 minutos até chegar ao local, que sim, haviam começado a construir condomínios que impedia nossa vista da cidade do alto.
- Poxa, que droga, vamos dar uma volta, ao menos você pode conhecer um pouco da cidade.
- Certo.

A conversa começou a ficar um pouco mais séria
- Poxa, não vai embora, gostei tanto de você.
- Posso afirmar que é recíproco, mas não tenho como ficar. Estou em um hotel podre, e já estou gastando uma grana boa com isso.
- Eu te ajudo.
- Jamais.
- Pare com isso. Sério, faz tempo que não me interesso por alguém, e você é muito interessante.

Eu fiquei sem graça. Fiquei vermelho e ela começou a fazer coisas de propósito para me deixar mais vermelho ainda.
Paramos no carro. Ela parou, pois ela quem o conduzia.
Ficamos parados por umas três horas conversando, rindo, nos beijando... Tudo parecia uma grande novidade, mas tudo parecia que acabaria logo, então cada minuto juntos era precioso. O problema é que as horas que passamos foram minutos. O tempo parecia não cooperar conosco.
Ela, com aquela saia rodada, uma blusa branca. Parecia a mais pura ninfa dada pelos Deuses a mim como presente. Nunca soube se eu merecia realmente esse presente, mas que ele foi muito bem aproveitado, isso pode apostar!

Ali, dentro daquele carro, eu sentia que tudo estava parado. O tempo não valia mais para nada. Muita coisa passou nesse meio tempo. Mensagens, saudades, telefonemas de horas, horas e horas. Parecíamos os melhores amigos de infância, sem nunca termos nos vistos antes.

A vida nos prega esse tipo de peça. O que ficou foi a lembrança de uma paixão forte, intensa, que nunca mais saiu de minha memória e meu coração. E aquela frase, a mesma frase que me perseguiu por todo o tempo que ficamos separados, ainda fica em minha cabeça. 

´A vida se apresenta na possibilidade de encontrar a diferença mesmo naquilo que aparentemente se repete´.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Poema


Você me olhava. Eu sentia. Você ria. Eu retribuía E você, com toda sua magia, deslizava suas mãos como se seu corpo fosse apenas um instrumento que deixava a mensagem fluir. A caneta era parte de seu corpo. Fazia formas. Você me olhava. Eu sentia.

As almas se tocaram, mesmo estando de longe. A vontade, a atração, desejo, tesão. Imaginei aquela festa juntos. Nós dois escapando dos olhares e indo matar nossas vontades. Mas te olho, e sua mão desliza sobre o papel. Você me olhava. Eu sentia

Sentia que as almas queriam se entrelaçar. Queriam se tocar, se sentir uma só. Mas a vida não permite. Não nos deixa. Impede-nos de tudo. Do tesão, em reprimir as vontades. De não poder soltar. Você me olhava. Eu sentia.

E como um pássaro minha imaginação voava pra dentro de sua mente, querendo saber o que estavas escrevendo, pensando. E seu olhar distante, deixando a mão deslizar.

Você me olhava. Eu sentia.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Disco 81 cerveja 81

ANGELUS – MILTON NASCIMENTO (1994). Está com calma? Tem como começar a escutar esse disco de alguma forma enquanto lê esse texto? (click aqui para ouvir). Ok, mesmo se não tiver, saiba que isso é uma obrigação em sua vida. E  vai entender o motivo...

Primeiro peço desculpas pelo tamanho do texto, realmente cortei muito para poder não ficar cansativo, mas é complicado falar de um disco que gosto tanto, que está entre os que mais gosto em minha vida. Sim, não é exagero quando falo isso sobre as composições, letras, participações e o quanto esse disco representa para a história da música, não só brasileira.

Milton Nascimento é um carioca criado em Minas Gerais. Mudou-se para Belo Horizonte para trabalhar como datilógrafo.  Morava em uma pensão quando conheceu Márcio Borges e  a partir dessa amizade, diversas poesias e músicas. Com isso, nasceram diversas parcerias e músicas que entraram para a história. Com ele e mais diversos amigos (que contarei em outra oportunidade), criaram o movimento “Clube da Esquina”.

O movimento conseguiu criar o que hoje é chamado de “Música Mineira”, uma MPB com muito jazz e rock progressivo. Esse disco é o ápice de suas composições. O disco é esquecido em seus shows na atualidade. Mas bem que ele poderia tocar na íntegra novamente...

O disco Ângelus é um pouco diferente. Ele tem como banda de apoio diversos amigos que fez durante todos os anos de carreira.  Olha quem são os convidados deste disco.

Milton Nascimento – vocais, sanfona, violão e piano.
Wayne Shorter - sax
Gil Goldstein – orquestra e regência
Jon Anderson – vocais
Túlio Mourão – teclado, piano
Hugo Fattoruso – acordeon, piano
João Baptista – baixo fretless, baixo
Wilson Lopes - guitarra e viola caipira
Robertinho Silva – percusão, bateria e concepção rítmica
Ronaldo Silva – percusão, bateria, efeitos, tamborim
Vanderlei Silva – percusão, efeitos, tamborim
Leonardo Bretas – vocais
Naná Vasconcelos – percusão e concepção rítmica
James Taylor – vocais, violão
Jeff Bova – teclados
Tony Cedras – acordeon
Anthony Jackson – guitarra "contrabass"
Chris Parker – bumbo
Peter Gabriel – vocais
Flávio Venturini – violão
Herbie Hancock – piano
Pat Metheny – guitarra, violão
Ron Carter – baixo
Jack Dejohnette – bateria


Ok, já viu que é pesado o time que toca nesse disco. Não teria como sair um disco no mínimo fantástico.  Agora vamos as faixas.

A introdução é “Seis horas da Tarde”, justamente a hora do Angelus. Realmente uma anunciação do disco.

“Estrelada” fala sobre a Terra de forma de construção e de como devolvemos isso. Música de Milton e Márcio Borges, tem participação de Jon Anderson, do Yes.  Essa música originalmente era pra ter sido usada como tema da Eco 92, mas acabou não finalizada. Milton estava em Nova Iorque, onde morava naquele ano, e não conseguiria terminar o cronograma.
“...És menina do astro Sol
és  rainha do mundo ao mar
teu luzeiro me faz cantar
Terra, Terra és tão estrelada
Os teus homens não têm juízo
Esqueceram tão grande amor.
Ofereces os teus tesouros
Mas ninguém dá o eu valor”.
Essa seria a estrofe tema da Eco, que acabou ficando guardada até que veio esse disco.

Em “De um Modo Geral”, o disco fica mais pesado e passa a ter elementos do jazz e do rock. O contratempo que a bateria fz no final da música é de dar nó na cabeça. Certa vez tentei tocá-la e vi que ainda preciso de uns 10 anos de estudo de percussão para começar a entrar no contratempo da música. Fantástico.

A faixa título é um tanto confusa, que com algumas audições consegue distinguir as ‘letras’ e o instrumental. Entre aspas pois a música não tem uma letra propriamente dita. É uma criança – Leonardo Bretas – quem começa a cantar a música, apenas piano e voz, quando depois entra Milton dando seus agudos e graves em uma mistureba bem interessante.

“Coisas de Minas” é a mais típica música caipira jazzística. O início é com viola sendo tocada de maneira forte, sem o dedilhado típico da música caipira, dando um pouco de peso e jazz na música. “A porta aberta bem vindo à casa prazer conhecer, se a conversa acabar na cozinha já é da família, melhor pra você’.  Isso é totalmente a característica do povo mineiro. Acolhedor, receptivo, falador e que se você não está comento (muito) parece que você não está bem.  Sempre lhe servem de tudo e depois, mesmo passando duas horas comendo e conversando, perguntam se a gente só come isso, por que não come mais?... coisas de Minas mesmo.

Hello Goodbye é uma regravação de Beatles que Milton já havia feito no disco “O Planeta Blue na Estrada do sol”, um acústico ao vivo de 1991. A canção ficou lenta e chorada, bem ao estilo de Milton – o que dá uma leve caída no disco, não na qualidade mas sim no crescimento andante das melodias-.

“Sofro Calado” é uma passagem de voz e piano, feita em parceria com Régis Faria.

“Clube da Esquina nº 2”. Clube da Esquina foi um movimento musical brasileiro surgido no início da década de 1960 em Belo Horizonte  , onde jovens músicos começaram a se reunir na capital mineira, seu som se fundia com as inovações trazidas pela Bossa Nova a elementos do jazz, do rock’n’roll – principalmente The Beatles –, música folclórica dos negros mineiros com alguns recursos de música erudita e música hispânica. Nos anos 70, esses artistas tornaram-se referência de qualidade na MPB pelo alto nível de performance e disseminaram suas inovações e influência a diversos cantos do país e do mundo. O disco foi lançado em 1972 e era pra ser o primeiro disco duplo da música brasileira, mas Gal Costa por questão de dois meses ficou com esse título. (em breve o disco estará na lista, mas isso foi apenas um breve  resumo). A música foi composta em um dia de chuva na casa de dona Maricota, mãe d’Os Borges (leia disco 98 dessa lista). Milton e Lô Borges estavam na varanda e fizeram a música. Quando terminaram olharam um para o outro e viram a pérola que haviam feito. No mesmo minuto Márcio Borges se prontificou a fazer a letra. Ao mesmo tempo Lô e Milton falaram “Não, sem letra”. Eles se olharam e concordaram. Essa música deveria ser instrumental. Após alguns anos,  mesmo com a música já gravada, Márcio fez a letra e a música acabou sendo grava primeiramente por Flávio Venturini (14 Bis, O Terço). Nessa versão, Milton dá uma quebrada crescente na música, com violentas paradas de contratempo. Vale toda a história que carrega essa canção.

“Meu Veneno” é uma parceria de Milton com Ferreira Gullar. Uma música um tanto chorada, onde a melancolia da voz de Milton casa-se com um acordeão e a percussão de Naná Vasconcelos.

Mas o disco ganha maior destaque na gravação que Milton faz em parceria com James Taylor. Taylor sempre foi um apaixonado pelo Brasil. Após o Rock n Rio 1, numa época em que ele retomava sua carreira pós o divórcio com Carly Simon, embora comovido com a inesperada recepção do público brasileiro (cerca de 250 mil pessoas). Em homenagem ao ocorrido, Taylor até compôs a balada "Only a Dream in Rio" (Apenas um sonho no Rio), que integrou "That's Why I'm Here", na qual declama versos em agradecimento como "I was there that very day and my heart came back alive" ("Eu estava lá naquele dia e meu coração voltou à vida"). Milton então fez a versão da música com a mistura da letra em inglês e português. Letra em português que ficou a cargo de Fernando Brant – velho conhecido da música mineira. Taylor e Milton dividem as vozes durante a música toda, e quando chega ao final, Taylor canta em inglês e Milton canta por cima a mesma estrofe em português.  Linda mistura.

Agora vem a música mais transcendental (Bob Marlon) que Milton fez. Em parceria com Flávio Venturini “Qualquer Coisa a Haver com o Paraíso” é mais uma daqueles sons de Milton que não têm letra, mas a voz se destaca fortemente. Com participação de Peter Gabriel (Genesis) que sempre foi fã declarado ‘the boys of the corner club’ ou os “garotos do Clube da Esquina “. Essa música começa bem lenta com a voz rouca de Peter Gabriel, crescendo assim que Milton entra em contraponto ao tempo e a voz de Peter. Simplesmente uma composição que deveria ser patrimônio imaterial da humanidade. Não, não é exagero, é um fato consumado dito por muitos.

“Vera Cruz” é uma das músicas mais antigas compostas por Milton Nascimento e Márcio Borges, porém gravada originalmente por Elis Regina no disco “Elis, como e porque” de 1969. Milton não mudou a melodia da música nem o tempo, apenas colocou sua voz em uma música que já era bem  característica com a voz da ternurinha. Uma singela homenagem.

“Novena”. Essa música tem muita história. Foi a primeira música escrita por Milton e Márcio Borges, com outro nome “Paz do Amor que Vem” e a primeira vez que fora gravada. Após saírem de uma das várias vezes que forma ao cinema ver o filme Julies e Jim, Milton e Márcio saíram decididos que iriam compor canções. A primeira canção foi justamente “Novena”. Na audição deste disco, Milton sentou-se com Márcio Borges e de mãos dadas ouviram todo disco. Justamente em Novena, seu irmão número doze cantava :

“...se digo amor
só é por alguém
é pelos malditos
deserdados deste chão...”

Nessa mesma hora Milton apertou com força a mão de Márcio. Voltaram no tempo. Porque essa música, justamente essa, lançava-os no vórtice de um abismo, um redemoinho de trinta anos de profundidade. Sem essa canção, talvez não tivesse existido toda a carreira de Milton. Agora, eles já não eram mais jovens e sonhadores, e sim dois cinquentões. Até o próprio clube da Esquina não era senão apenas memória, momentos evaporados sob o calor de sentimentos.

“Amor amigo” é releitura de uma música já gravada por Milton , porém neste disco ela é totalmente instrumental.  Começa com um violão fantástico de Pat Metheny (grande guitarrista de jazz americano), depois com a entrada de voz de Milton e de um piano maravilhoso, tocado por Herbie Hancock(também jazzista americano).

Para fechar o disco, apenas uma passagem. Sofro Calado com Milton na voz e piano.

Disco de ouro.


Para acompanhar esse disco na real deveria ser batida de limão, já que Milton e Márcio têm diversas
histórias chapando dessa bebida, mas não vou desviar da proposta das cervejas. Indico a Bavaria 8.6 mas não se engane, não é a nossa Bavária não. Essa é uma cerveja holandesa, de alta fermentação, sabor mais forte e marcante. Com 7,9% de álcool, a cerveja é uma Larger mais forte, que combina muito bem com frituras e massas mais pesadas. Queijos mais fortes como gorgonzola e real caem muito bem para acompanhar. Então abra essa cerveja e bote pra rodar Angelus. Pode crer que não irá se arrepender.

Saúde.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Cerveja e disco 82 - Dois clássicos mundiais


Ronnie Von – Máquina Voadora. Disco de 1970, é um marco na música psicodélica brasileira. Com elementos que mostram influência de Beatles – especialmente a parte mais psicodélica do quarteto – e com referências aos livros escritos por Antoine de Saint-Exupéry, em particular o Pequeno Príncipe (claro).

Com uma capa espetacular, o disco abre com a música que o nomeia.  Com um cravo matador e impactante instrumental, Ronnie mostra uma bela potência de voz. Uma música um tanto curta mas incrível. Vale destacar, além do cravo, a bateria bem quebrada.  A abertura não poderia ser melhor. O disco segue com “Baby de Tal”, música de Arnaldo Saccomani (o mesmo que foi jurado do ídolos e grande produtor musical brasileiro).  Esse som é bem a cara de Ronnie Von, tanto é que nas rádios foi essa a música de trabalho na época, com um lado mais romântico, mas sem esquecer a parte mais psicodélica.

A terceira faixa é uma das melhores composições de Ronnie Von. “O Verão nos Chama”. Vale destacar a letra do refrão “No paraíso os anjos dançam, e andam de motocicleta”.  A música tem uma linha de sopro muito na linha que o Tim maia fazia (o que me faz pensar que pode ser influência de Saccomani, que também produziu discos de Von e Tim).

“Seu olhar no Meu” é a referência ainda da época que ele disputava a audiência com a Jovem Guarda. O lado mais romântico que foi bem  característico em sua carreira. Em “Imagem”, a voz e o cravo sintetizado mesclam o destaque da música. Incrível o casamento de sua voz mais grave com o agudo do sintetizador.

“Continentes e Civilizações” é uma música extrema. Por quê? Pela letra reflexiva, pela melodia melancólica, pela declamação de início, por toda sua obra. Uma música simplesmente genial, mesmo que seja mais declamação do que cantoria. Fiquei procurando algum trecho para destacar, mas é impossível isso, essa música é como o Dark Side of the Moon do Pink Floyd, tem que ouvir por completo para entender.

“Viva o Chopp Escuro” é um hino do rock psicodélico, da boemia, com um refrão fantástico: “Viva o sol e o mar, eu digo ,  Viva o azul e o verde, eu penso , Viva o chopp escuro no calor!” Uma  observação para esse refrão é que no Brasil até hoje pessoas acreditam que a cerveja escura(ou o chopp no caso) é apenas para o frio. A cultura de tomar a cerveja estupidamente gelada fez criar essa cultura totalmente errada.

“Enseada” é uma canção bem maluca, apesar de ser mais lenta e sem o instrumental experimental como em outras músicas, mas com um contratempo bem bacana e uma letra meio maluca – um jipe branco voando a beira mar não me parece algo tão longe do LSD.

Em “Tema de Alessandra”, a guitarra de início é uma eletricidade linda, mas na quebra da entrada da voz parece mais aqueles velhos boleros dos anos 20 – claro, muito mais rápido. No refrão, a música volta a crescer com fidelidade aos anos 70. O disco ainda segue com “Águas de Sempre” , que remete muito mais a característica de suas músicas, algo mais romântico e suingado, assim como “Cidade”, que começa com ótimos sopros e um teclado meio frito ao fundo.  Bem interessante o tema da letra, que é um tanto atual, e com uma quebrada para o refrão  - e depois para voltar – que deixa com vontade de quero mais.

Para fechar o disco, “Você De Azul”, uma música bem quebrada com o cravo e sopros que marcaram o disco. Parece que Ronnie fechou o disco com tudo que foi usado para compor esta magnifica obra. O legal é que ele remete novamente ao nome Alessandra nessa música. Seria um amor platônico?

Vale a pena ver esse vídeo só para ficar na vontade - https://www.youtube.com/watch?v=0YBAZHVuzuQ


Para acompanhar esse disco escolhi uma cerveja escura – de propósito – e claro (an?) uma das mais clássicas do mundo. Abra uma Guinness, especialmente se estiver calor para acompanhar o disco. Não vou detalhar a cerveja por aqui, afinal se precisa ter informações sobre a Guinness você ainda não está tomando cerveja na vida.

Bons acordes

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Disco 83 Cerveja 83

LUIZ CARLOS VINHAS - O SOM PSICODÉLICO DE LCV - Conheci esse disco por acaso. Procurando coisas para conhecer de Bossa-Nova, acabei caindo nos trabalhos de Luiz Carlos Vinhas. Mais pela bossa e por seu grupo, Bossa Três. em sua discografia, vi esse disco e me interessei. Maravilha...

Nascido no Rio de Janeiro em 1940, Vinhas foi para a música ainda cedo, quando foi presenteado com um violão por seu pai. Em 1957 já estava nas composições da bossa nova carioca.

"Trabalhou como pianista no Beco das Garrafas, além de participações nos discos de Elis Regina, Quarteto em Cy, Jorge Benjor, Maria Bethania, entre outros. Formou também um dos primeiros conjuntos musicais deste período, o Bossa Três, o qual, em 1966, com Leny Andrade e Pery Ribeiro nos vocais, foi rebatizado de Gemini V ." (Wikipedia)

O primeiro disco  foi em 1962 com o Bossa Três e Lennie Dale, mas seu primeiro disco solo - assim podemos dizer - foi em 1964, denominado Novas Estruturas. Oficialmente, Vinhas tem 19 discos, sendo o último lançado em 2000 com a parceria de Bossa de Três e Wanda Sá. Vinhas morreu em agosto de 2001 devido a complicações no  coração (fumante desde sempre).

Vamos ao disco...

O disco é muito rico em elementos e experimentos, mesclando muita psicodelia e toque de música brasileira, com cantos caboclos, umbandistas e folclóricos.

Abrindo com a instrumental "Amazonas", de Joao Donato, o disco já promete um choque nos ouvidos. Quase impossível ficar parado (neste momento, escrevendo ao menos os pés estou movendo).

 Tanganica e  Ye-Mele (um canto lindo para Iemanjá) mostram como Vinhas é experimental e conhece bem a cultura brasileira colocada em suas músicas. A segunda é uma parceria com Chico Feitosa, grande parceria em diversas faixas do disco, assim como a seguinte,  Zizê Baiô (perceba que os nomes remetem muito à cultura indígena).

Un jour Christine , de Bruno Ferreira é uma música mais melancólica. Linda melodia de voz e uma percussão bem simples ao fundo. Como eu sempre digo. Tem horas que o mais sofisticado está na maior simplicidade.

A partir da sexta faixa, Vinhas começa uma série de regravações fantásticas de músicas ao redor do mundo. São elas:

Song for my Father de Horace Silver, Chatanooga choo-choo de M. Gordon e H. Warren, Don’t be that way de Goodman,  Sampson e Parish, Tributo a Martin Luther King (Ronaldo Bôscoli e o grande Wilson Simonal, Pourquoi de Caco Velho e Jadir Teixeira de Castro,  Arrasta a sandália deOswaldo Vasques e Aurelio Gomes, Morena, Boca de Ouro de Ary Barroso, Rosa morena do mestre Dorival Caymmi, Birthday morning de Yester e Carmel fechando com Can’t take my eyes off you de B. Crewe e B. Glaudio.

Para fechar o disco, O Diálogo, de Vinhas e Chico Feitosa. Uma música dialogada muito bacana, maluca, que deixam os ouvidos meio malucos.

Para esse disco, indico a cerveja Darkness Hoffen, da cervejaria Hoffen.

Cerveja Weizenbock de trigo escura, alta fermentação, teor alcoólico de 6,8% vol, traços de caramelo,  aroma de especiarias e lúpulos alemães. Harmoniza muito bem com  Carpaccio, Chucrute (conserva de repolho), Presunto Crú, Truta e derivados. Torradas com peixe ou camarão são uma ótima pedida para acompanhar também.

Divirta-se


domingo, 25 de janeiro de 2015

Disco e cerveja pelos 461 anos de São Paulo...

DEMÔNIOS DA GAROA – SAUDOSA MALOCA Falar em São Paulo e não falar em Demônios é imperdoável. Hoje, 25 de janeiro, aniversário da cidade, não tem como não fazer um post e uma cerveja para homenagear a cidade que nasci e que, felizmente moro longe.

Em seus 461 anos, São Paulo abrigou os maiores artistas do mundo nem que seja apenas um único dia. E aqui nasceram outros tantos inesquecíveis. Dentre eles, o grupo de interpretava as músicas de Adoniran Barbosa, os Demônios da Garoa.

Criado em 1943 como um grupo de seresta como nome de “Grupo ao Luar”. Em 1943, cantando pela primeira vez no rádio, venceu um concurso de calouros, chamado A Hora da Bomba, da Rádio Bandeirantes. O prêmio principal era um contrato para duas apresentações semanais na rádio.

O grupo mudou de nome por iniciativa do locutor Vicente Leporace, entusiasta do grupo. Este promoveu um concurso entre os ouvintes para que fosse escolhido o nome do grupo. Dentre as sugestões, foi escolhido o nome "Demônios da Garoa" por um ouvinte da radio não identificado até hoje. Vale lembrar que Leporace ao anunciar o conjunto em seu programa costumava chamá-los de "endiabrados" do Grupo do Luar.

Em 1949, durante as gravações do filme O Cangaceiro, conheceram o compositor Adoniran Barbosa. Nasceu a parceria que rendeu os principais sucessos do grupo e seu reconhecimento nacional.
Até 1957, o grupo fazia apenas gravações para as rádios e filmes, quando resolveram lançar o primeiro disco. Com músicas gravadas suficientes, o disco é mais uma coletânea de suas melhores músicas, pois algumas ficaram para o segundo e terceiro discos e nenhuma foi compota especialmente para fazê-lo.

O disco inicia com a música que dá nome ao mesmo. A história de pessoas que ocuparam um terreno e veio a polícia para tirá-los de lá. Estranho, mas até hoje é uma letra que condiz com a realidade da cidade.

‘Apaga o Fogo Mané” é um samba muito suave, beirando o choro.  Ela mostra uma característica forte do grupo, o uso do humor para criar seus sambas.  “Iracema” é uma das letras mais lindas que Adoniran fez, segundo ele próprio. História do homem apaixonado que perde sua amada.
“um samba no Bixiga” é a primeira de várias canções ao longo da carreira do grupo que remetem ao tradicional reduto italiano da cidade. Mas “Samba do Arnesto” é, sem dúvida, a de maior destaque deste álbum.  Ernesto Paulelli  (1913-2014) conheceu Adoniran em 1938, durante uma ida à Rádio Record, em São Paulo. Na ocasião, ele acompanhava a cantora Nhá Zefa e foi apresentado por ela a Adoniran. O curioso é que o sambista, ao ler no cartão de apresentações o nome de Ernesto, logo inventou o "apelido" de Arnesto. E disse, como Ernesto costumava contar: "É Arnesto, o seu nome dá samba. Vou fazer um samba para você." E fez.

“Quem bate Sou Eu” é uma das músicas da época do  “Grupo ao Luar”, com pequenas modificações na melodia.   “As Mariposas” é a que melhor define o humor do grupo, com história de uma lâmpada contando sua vida com as mariposas. Genial. O disco fecha com a maravilhosa ‘Progréssio’ .

Com oito faixas, o primeiro disco do grupo é um marco no  samba paulistano.  O grupo se tornou um dos mais antigos da história, além de todo dia 25 de janeiro se apresentarem no Mercado Municipal, ou Mercadão.

Mas para acompanhar esse disco, acredito na cerveja Karavelle, da cervejaria de mesmo nome que fica em Indaiatuba.  Cerveja de baixa fermentação, puro malte, ela tem uma coloração bem cristalina e combina muito bem com coxinhas e pasteis, bem típico de SP...



quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Melhores cervejas do Brasil

Uma pausa nos 100 discos e 100 cervejas para mostrar que saiu o ranking das melhores cervejas tipo Pilsen do Brasil. O texto completo você encontra no site PRAZERES DA MESA

O interessante é que o juri chegou ao resultado em um teste as cegas. Ou seja, não foi aquela coisa de proteção a alguma marca, foi realmente pelo sabor, combinações etc...

Confira as imagens da eleição.