quinta-feira, 26 de abril de 2012

Estigmação


As folhas secas ainda estão pelo jardim. A luz do sol bate, raiando as primeiras horas da manhã de um outono gelado, mas nem por isso frio. O alaranjado da flor parece dizer “hei, outro dia está ai”.
As ruas ainda desertas. O sol clareando o pouco que se vê. As luzes ainda acesas mostram que o galo ainda não conseguiu cantar.
Tudo parece ser mais difícil. Da até “dó de mim”, como uma amiga me escreveu uma vez.
Ao caminhar, vejo minha respiração saindo de meu rosto. Está gelado, mas não frio.
A epístola na mão guarda uma grande lembrança, que faz questão de não esquecer.
Saudade...Ah, essa palavra poderosa.
Gosta de sentir, de relembrar de um tempo que não volta mais, de uma pessoa que no volta mais. Todos os momentos estão guardados espistolarmente. Todas as lembranças.
O último encontro foi aos 14 anos... Quanto tempo. Quase o dobro de anos.
Aquele aceno de “Adeus” fica marcado na memória. O presente, tão simples para alguns e tão sentimental para outros, ainda guarda com carinho. Apenas uma revista, com uma reportagem que tanto gostava de ler.
O cartão de despedida, o cinema do último dia...quantos anos, quanto tempo.
Hoje os caminhos mudaram. Os milhares de quilômetros de distância nunca os separaram. Mas “infelizmente nem tudo é, exatamente como a gente quer”.
Hoje se descobriram água e óleo. Mas a vontade é de se tornarem margarina, que é a única forma que ambos se juntam.
Os telefonemas não mais existem. Mesmo com toda a tecnologia, ainda preferem as cartas. Aquela ansiedade de chegar às novas escritas, as novas fotos.
Nenhum aniversário havia sido esquecido, porém algo deveria ser feito.
Teve dois pensamentos. Largar tudo e encontra-la ou mata-la de vez. Preferiu a segunda opção.
Calmamente, foi destruindo todas as memórias. O fogo que ardia na fogueira queimava todas as cartas e fotos. Em suma, a vontade era de se atirar na fogueira para salvar tudo, mas sua mente não permitia tal façanha.
Ao queimar as memórias, decidiu queimar a fonte dela.
Pegou a estrada e viajou mais de dois dias até chegar ao encontro.
Ao chegar, se olharam. Ela abriu um sorriso sem graça. Sua vontade era de abraçá-la, beija-la e nunca mais largar. Mas ele tinha um motivo naquela visita.
Muitos anos sem se ver, vidas opostas, tempo passado. As lembranças vieram à cabeça.
Engatilhou. Atirou. A bala entrou certeira na cabeça, deixando uma poça de sangue no chão.
Pessoas que passavam ao lado gritavam em desespero. Um maluco com uma arma, atirando assim, no meio da rua.
Ele ficou com os olhos abertos, estáticos. A frieza de seu olhar demonstrava que, para ele a coisa certa havia sido feita.
Curiosos o chamaram de drogado, maluco. E ele apenas queria acabar com lembranças que atormentavam a sua vida.
Mas ao acabar com essa lembrança, acabou comum passado que não voltará mais. Preso a esse passado, o tiro emsua cabeça foi a sua única saída.
Ela não entendeu muito bem o fato de ele ter viajado tanto tempo para se matar na sua frente. Ao ver a poça de sangue, fechou os olhos e caiu aos prantos.
Suas lágrimas pareciam a pimenta mais ardida que um dia provara. O céu, no memso instante, ficou negro. A vida parecia ter pregado a peça mais semgraça de toda a história.
Percebeu um papel em seu bolso. Relutou pr mover um corpo, com os olhos estáticos no chão. Ao pegr o papel, um bilhete.
“Natasha, venho por esse meio acabar com a memória que mais atormenta a minha vida. Você entrou e transformou minha vida. Do escuro conheci o claro. O que antes era preto e branco havia cores. O céu fundia-se com o mar, e os passaram eram os maestros de minha vida. Agora, preciso acabar com isso, pois não apenas a memória ficou, mas a dor de não te-la comigo. E como todo amor é egoista, resolvi marcar sua vida, de uma forma um pouco mais diferente que você marcou a minha”.

Ah, as lembranças


Noite em claro é assim. As sombras sempre fazem desenhos nas paredes. E nessa noite, não foi nada diferente.

A noite estava gélida. Me sentia no sul do país,mas não estava lá. Muita coisa vinha a minha cabeça. Muitas memórias, muitos presentes e quem sabe algo do futuro.

Vozes surgiam em minha mente. Acendi um cigarro. “Se minha esposa souber que ando fumando novamente ela me mata”, pensei comigo mesmo.

O cigarro me fazia esquecer um pouco desse frio. Estava despreparado. Até tinha blusas e um cobertor, mas estavam no meu quarto e não queria me deslocar para pegá-los.

Lembro de minha filha um dia comentando comigo “Pai, um dia você vai estar sozinho e vai se arrepender de tudo o que já fez”. Ela falou isso porque estava com raiva. Pena ela ter partido sozinha. Infelizmente a fatalidade aquele dia acabou comigo. Ela, toda nervosa, saiu de casa, apenas porque dei uma bronca nela. Ela me engravida e não tinha certeza de quem era. Nossa, minha vontade foi de bater muito nela, mas falei boas merdas. Quando ela saiu de casa, uma pena, aquele carro veio e acabou com uma vida que mal havia começado. Infelizmente ela partiu brigada comigo. Meu Deus, essa dor que nunca acaba.

Essas noites de insônia nunca me deixam tranqüilos. Olho para a lua, olho para o céu...sempre negro como meus pensamentos. Há muito tempo venho pensando se minha vida realmente vela a pena.

Agora, com minha esposa no hospital, preciso de mais força...ah, as memórias. Lembro-me quando a gente se conheceu. Estava tão frio quanto hoje. As nuvens baixas deixavam uma linda neblina no ar. Eu a vi chorando na rua perguntei o que a fazia tão triste e que os olhos dela eram lindos para ter alguma lágrima. Foi o primeiro sorriso que consegui tirar dela, de muitos outros. Desde então, não nos separamos mais. São exatos 16 anos dessa alegria, mas desde que nossa menina se foi ela anda doente.

Sem minha menina fico pensando que a minha vida não vale muito a pena. Mas sempre penso que se eu partir, o rombo no coração de minha amada será maior do que já está...Ah, as lembranças.

Minhas palavras são soltas no ar, assim como minhas lembranças...merda de brasa que cai na roupa...Minhas memórias vão e vem na maior facilidade. Primeiro beijo, primeira namorada, primeiro dia de aula, primeiros passos, primeira briga, primeira vez, primeira nota boa,o que sempre foi raro...Mas desde que a menina se foi, as memórias são apenas aleatórias.

Lembro-me do primeiro sorriso dela. Ainda na maternidade, a enfermeira a pegou e levantou para tirar uma foto, através do vidro mesmo. Foi ai que ela sorriu. E o papai babão aqui se derreteu todo. E hoje, só as lembranças me acompanham...

(o telefone toca)

Não posso acreditar...pelo menos a minha vida agora tem um outro sentido.

(Ouve-se um barulho de tiro)

Perfume


A tarde já não fazia mais tanto sol. O dia estava quente, mas o sol já estava se escondendo por entre vales e montanhas da serra paulista.

Dentro daquele salão, com computadores e crianças, a vejo. Cabelos claros, como fios do mais puro ouro.

Amais pureza das purezas que já vi em minha vida.

Os olhos verdes reluziam naquele final de tarde. Um leve caminhar pela cachoeira me fez imaginar que o mundo poderia acabar ali, que eu estaria feliz demais para lamentar algo.

Aquela língua presa, um sotaque e os óculos me fizeram ter a certeza que nunca mais sairia de minha mente.

Uma rápida visita até um alambique. E veio um trecho de um diálogo que nunca esqueci. “Óculos, sotaque de caipira e língua presa”. Logo pude responder. “Se melhorar estraga”.

Ao adentrar no carro, aquele perfume tomava conta do ambiente. “Nossa, que perfume maravilhoso”. Não sei porque fiz esse comentário. Acho que pensei alto demais, mas tive tempo de arrumar. “Que perfume?” “Esse, de natureza”. Porque falei isso não sei. Talvez pela minha timidez, talvez pelo fato de ter medo de sofrer uma represália. Só sei que esse mesmo perfume nunca mais foi esquecido.

Fomos para um sítio onde fabricavam mel. Lá, o mel se tornará amargo perto da doce voz dela. A magia de seu olhar, a maciez de sua pele me contagiava cada vez mais. Curtia cada segundo ali perto, pois sabia que meu contato não iria além disso.

Ao ir embora, eis que pergunto. “Que perfume você usa?” Ela riu e falou o nome do tal. Assim que entrou no ônibus, sabia que seria meu último contato.

Tentar um beijo? Jamais, isso não teria boas consequências. Tentar um contato futuro? Boa ideia. Trocamos telefones. Nunca liguei, mas sei que também marquei sua vida.

Mas que esse perfume ainda me desnorteia...Ah, uma Branca sensação de cabeça perdida...

Pode apostar

Por mais forte que parecemos

Por mais  frieza que possamos transmitir

E por todo o tempo 

Nós que estamos sempre na estrada

Sofremos de um mal necessário

Saudade

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Lembo-me muito bem. Esse calor que consome meu corpo, junto com o calor do corpo dela.

O atrito.

O suor.

Os gemidos.

Os beijos molhados por todo o corpo.

Parece que esse tempo todo,separados, não passou. Ficou ali, intacto para ser cultivado novamente.

Explosão se sentidos.

Dejavu´s.

Parece que sabemos muito bem o mapa do corpo um do outro.

O universo ficou pequeno para tudo.

O mundo poderia cair lá fora, que estavamos muito bem.

Os beijos... pareciam que foram feitos na medida para encaixar perfeitamente.

Hoje são apenas lembranças. Mas quem sabe em breve...